quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A representação da linguagem e o processo de alfabetização - Emilia Ferreiro


A autora argumenta que no processo de alfabetização existem três elementos inter-relacionados “quem ensina”, “quem aprende” e o “objeto de conhecimento” envolvendo esta aprendizagem. No entanto, apenas os dois primeiros têm sido caracterizados, seja na discussão sobre o método de ensino, seja ao pensar o processo de maturação do aluno.
Historicamente a escrita tem sido tratada com o um processo de codificação, Emília Ferreiro, ao contrário, enfatiza que a escrita, objeto de conhecimento no processo de alfabetização, é um sistema de representação fruto de um processo histórico e o tratamento do processo do ensino e de aprendizagem durante este período deve oportunizar aos alunos condições para que estes compreendam o processo de construção e suas regras de produção. Isto envolve, fundamentalmente, entender o que a escrita representa para o aluno.
A forma como a natureza da escrita é concebida pelo educador traz consequências imediatas em sua prática educativa. Caso seja concebida como um código as atividades escolares orientam-se pela transcrição das unidades sonoras em gráficas, colocando-se em primeiro plano a discriminação visual ou auditiva e sua aprendizagem inclui somente a aquisição de uma técnica.
Entendendo a escrita como representação, sua aprendizagem se converte na apropriação de um novo objeto de conhecimento, incluindo a compreensão da diferença entre a linguagem oral e a escrita, e o contexto de seu uso.
Durante o processo de alfabetização, isto de apropriação da linguagem escrita, as concepções das crianças a respeito do sistema de escrita segue uma evolução psico-genética. O método utilizado pela autora para analisar estas etapas inclui a analise de textos escritos pelas crianças de forma espontânea. Para a autora:
“Quando uma criança escreve como acredita que poderia ou deveria escrever certo conjunto de palavras, está nos oferecendo um valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para poder ser avaliado.”
As crianças possuem hipóteses sobre a escrita que segue uma linha de evolução regular, mesmo em diferentes culturas, de diversas situações educativas ou mesmo em línguas diferentes.
Inicialmente, as primeiras escritas infantis aparecem como linhas onduladas ou quebradas, fragmentadas ou uma série de rabiscos, e não há uma distinção entre desenhar e escrever.
A fundamental distinção entre desenhar (domínio icônico) e escrever é o primeiro grande obstáculo a se vencer durante a alfabetização. Ao desenhar, as formas dos grafismos reproduzem a forma do objeto na natureza; ao escrever, não, pois a escrita é uma convenção social.
O período seguinte se caracteriza pela construção da diferenciação entre as escritas. Inicialmente a criança utiliza letras convencionais, mas sem diferenciação inter-figura. Para escrever “peixe”, utiliza as mesmas letras quando solicitado para escrever “o gato bebe leite”.
O passo seguinte se caracteriza pela diferenciação inter-figura: as crianças exploram critérios que lhes permitem variar a quantidade de letras de uma escrita para outra, para obter escritas diferentes, chamado eixo quantitativo. Ou, ainda, variam a posição das letras, ou o repertório (eixo qualitativo). Entretanto, cabe frisar, que ainda não há correlação com a escrita alfabética, mas são tentativas realizadas para representar as palavras.
Posteriormente, a criança compreende que as letras utilizadas podem corresponder a sílabas. É o chamado período silábico. Inicialmente ela utiliza uma letra por silaba, sem omitir sílabas e sem repetir letras até que estas passam a adquirir valores sonoros relativamente estáveis e para escrever a palavra GATO, a criança registra AO (uma letra para cada sílaba).
A escrita silábico-alfabética é o passo seguinte no processo de apropriação da escrita, nesta fase a criança a medida que vai verificando a insuficiência de sua hipótese de associar uma letra para cada sílaba oral, ela registra as palavras fonetizando as silabas com mais de uma letra. Assim para escrever MARIPOSA, ele registra MRIPSA.
Entender que a alfabetização é um processo que envolve a apropriação de um sistema de representação traz consequências para a prática educativa docente. A autora não faz referência ou critica nenhum método em especial, mas alerta que é preciso reavaliar a forma vemos a linguagem e o aluno.
A linguagem deve ser utilizada na sala de aula preferencialmente dentro do contexto de seu uso, assim como acontece fora do ambiente escolar. Quanto ao aluno, este deve ser encorajado a produzir textos de forma pessoal, testar suas hipóteses em relação à escrita e a leitura, pois as crianças mesmo não alfabetizadas podem contribuir na própria alfabetização e na de seus companheiros.
Finalmente, para a autora, é preciso reavaliar nossa prática e que a alfabetização necessita de uma “revolução conceitual”.
Referencia:
FERREIRO, Emilia. A representação da linguagem e o processo de alfabetização. Cad. Pesqui.,  São Paulo,  n. 52, fev.  1985 .  



2 comentários:

  1. Bom dia! Estou escrevendo também sobre alguns tópicos na área de educação da uma visita lá, o endereço é http://edu-cia.blogspot.com/

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  2. Texto muito bom que exprime reflexões de grande importancia.

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